Vamos direto ao assunto?
As pessoas idosas têm viajado cada vez mais e muitas são viagens de longa distancia o que aumenta a preocupação com o risco de tromboembolismo venoso. Felizmente estudos mostram que algumas medidas podem prevenir essa perigosa situação.
Por que as viagens podem aumentar a chance de tromboembolismo venoso?
A imobilidade provoca estase venosa (fluxo lento) que pode levar a formação de coágulos nas veias profundas das pernas. Quando esses coágulos se formam e não se dissolvem ocorre a trombose venosa profunda. Se o coagulo se desprender e migrar para circulação pulmonar ocorre a chamada embolia pulmonar. Esse mecanismo denomina-se tromboembolismo venoso.
Todas as pessoas que viajam podem desenvolver tromboembolismo venoso?
Não. A chance de desenvolver o problema depende do número de fatores de risco que cada um apresenta. Quanto maior o número de fatores pré-existentes maior o risco.
Pesquisas mostram que 75% – 99,5 % dos casos ocorrem em quem tem mais de um fator de risco.
Quais são os fatores de risco para o tromboembolismo venoso?
- Idade avançada (aumenta após os 40 anos)
- Dificuldade de locomoção (exemplo osteoartrite de joelhos)
- Insuficiência venosa periférica (varizes)
- Tromboembolismo venoso prévio
- Obesidade (IMC > 30 kg / m2)
- Doença oncológica ativa ou tratamento recente de câncer
- Doenças crônicas como a insuficiência cardíaca, doença inflamatória intestinal e doença renal.
- Cirurgias recentes e hospitalização
- Trauma e imobilização ortopédica
- Terapia de reposição hormonal ou uso de anovulatórios (pílula anticoncepcional)
- História familiar de trombose ou embolia pulmonar
- Tabagismo
- Uso de tamoxifeno ou raloxifeno
- Gravidez e período pós-parto
- Distúrbios de hipercoagulabilidade
- Uso de cateter venoso central.
Por que preocupar-se com o idoso que viaja?
O envelhecimento por si só é um fator de risco e quanto mais avançada a idade, maior a probabilidade. É frequente o idoso ter outros fatores de risco que se potencializam e aumentam a chance de um evento. Não é difícil imaginar uma pessoa idosa (> 60 a) com varizes, dificuldade de locomoção por doenças ortopédicas do joelho e/ou do quadril e portadora de uma doença oncogeriatrica.
A duração da viagem interfere na chance de eventos?
Quanto mais longa a viagem pior. Aquelas com duração superior a 4 horas tanto em avião, carro, ônibus ou trem são as mais preocupantes.
Quanto tempo depois da viagem pode surgir os sintomas?
Logo após o desembarque e até 4 a 8 semanas depois.
Por que se fala mais dessa situação nas viagens de avião?
Porque maior parte das pesquisas é feitas com indivíduos que utilizaram esse tipo de transporte. Viagens longas em transporte terrestre podem ser igualmente deletérias.
O tamanho e o espaço entre os assentos faz diferença?
Assentos altos não reguláveis e espaços pequenos entre a fileiras das aeronaves são fatores que podem contribuir para a formação do coágulo. Nas pessoas com menos de 1,60 m a parte anterior do assento pode comprimir a região poplítea (a parte posterior do joelho) dificultando o retorno venoso. Nos indivíduos com mais de 1,90 o pouco espaço entre os assentos dificulta a movimentação das pernas durante a viagem.
Quais os sintomas da trombose venosa e da embolia pulmonar?
Reconhecer os sintomas é muito importante, pois o inicio precoce do tratamento faz muita diferença.
Sintomas e sinais de trombose venosa
- Aumento da temperatura na perna
- Inchaço e rigidez na panturrilha (batata da perna)
- Dor na panturrilha
Sintomas da embolia pulmonar
- Falta de ar súbita
- Dor no tórax de inicio súbito a inspiração
- Desconforto ao respirar
- Ansiedade e inquietação
- Tosse com sangue
- Dor e inchaço nas pernas (trombose prévia)
Infelizmente em 50% dos casos a trombose é assintomática e os sintomas de embolia inespecíficos.Ao suspeitar não negligencie e procure uma avaliação precoce.
Quais as medidas preventivas para viajantes de longas distâncias?
Especialmente os idosos devem consultar seu médico sobre a necessidade de meias elásticas e anticoagulantes.
Outras medidas preventivas são:
- Locomover-se durante o voo
- Fazer exercícios musculares contraindo e relaxando a musculatura da panturrilha.
- Tomar muito líquido para se hidratar evitar bebidas alcoólicas.
- Preferir assento no corredor para não se inibir em levantar e caminhar.
- Viajar com roupas confortáveis.
- Evite usar indutores de sono para dormir durante o trajeto do voo.
Autor:
Dr. Marcos Galan Morillo – CRM: 58571
Fontes:
- Amato, MCM, Manual do Médico Generalista na Era do Conhecimento
- Chandra D et al. Meta-analysis:travel and risk for venous thromboembolism. Ann Intern Med2009.
- Gavish I, Brenner B. Air travel and the risk of thromboembolism. Intern Emerg Med 2011.